quinta-feira, 2 de junho de 2011

300 C


Assim que a Daimler-Benz assumiu a Chrysler, em 1998, não faltaram previsões sobre os destinos da montadora americana sob a influência da estrela de três pontas. Falou-se em perda de identidade, reposicionamento da marca no mercado e até encerramento das atividades. A escassez de otimismo não se apoiava apenas na simbologia astrológica. A troca de comando foi traumática, com os executivos americanos que eram a prata da casa debandando para a concorrência ou se aposentando precocemente. Diversas fábricas foram fechadas (inclusive a unidade brasileira, que produzia a picape Dakota, no Paraná) e os resultados financeiros dessa fase indicavam grandes perdas. Com o tempo, porém, as nuvens negras foram se dissipando. Os alemães deram salvo-conduto aos projetos que estavam em andamento, como o da renovação das picapes Dodge. É inegável que o DNA da Mercedes-Benz tenha dado sua contribuição: o Crossfire, lançado no ano passado, nada mais é que um SLK disfarçado. Mas os alemães deixaram claro o respeito aos valores da Chrysler, que estão materializados em sua plenitude no novo 300C, o primeiro sedã desenvolvido sob a nova direção.

Uma das estrelas do último Salão do Automóvel de São Paulo, o 300C foi lançado no começo do ano nos Estados Unidos, onde já é um sucesso de vendas. Por aqui, ele só deve chegar às concessionárias no segundo semestre de 2005, segundo a DaimlerChrysler. Mas já está sendo comercializado pelo mercado independente. A unidade que nós testamos foi trazida pela loja Forest Trade, de São Paulo, e custa 80000 dólares.

Visualmente, os únicos vestígios da linha Mercedes são as alavancas de acionamento dos limpadores do pára-brisa e do cruise control. A tração traseira, comum na linha alemã, fez parte do repertório dos sedãs da Chrysler até meados dos anos 1980. Portanto, é mais uma volta às origens.

O design do 300C encontra referências em diversos Chrysler do passado. A principal fonte de inspiração é a famosa Série 300, modelos fabricados entre os anos de 1955 e 1965. Além deles, outros três protótipos - D'Elegance e Special, de 1953, e Falcon, de 1955 -, os quais traziam a grade dianteira, os faróis e os instrumentos do painel semelhantes aos que se vêem agora no novo 300C, deram sua contribuição.


A DaimlerChrysler apresentou o 300C, no Anhembi, como sendo "a volta do grande carro americano". Segundo a empresa, o design de traços retilíneos, linha de cintura alta e teto rebaixado deverá orientar o estilo dos futuros lançamentos da marca. Ele impressiona pelo tamanho da carroceria (são 5 metros de comprimento e 3 de entreeixos) e das rodas aro 18. Nas dimensões, ele se assemelha ao Mercedes-Benz Classe S, com chassi longo. Mas sua plataforma é nova na linha, assim como seus outros sistemas, como suspensão, freios e transmissão.

O motor incorpora a tradição da Chrysler nas competições. O V8 5.7 Hemi é uma reedição do motor de câmaras hemisféricas (daí o nome Hemi), que fez história, nos anos 50 e 60, dominando as corridas da Nascar. Patrimônio histórico da marca, ele foi reprojetado, ganhou um sistema de corte de cilindros chamado MDS (Multi-Displacement System) - igual ao Cut-Out System, que existe no motor do Mercedes Classe S, desde 1999 - e voltou à cena. Esse sistema MDS controla a alimentação, podendo cortar o fornecimento de mistura ar-combustível para quatro dos cilindros, quando o motorista não necessita de toda a força do motor. O V8 se torna um V4 e, segundo a fábrica, fica 20% mais econômico. Em nossa pista, foi possível conferir o baixo consumo. Nas simulações de consumo urbano, o 300C conseguiu a boa média de 6,2 km/l e, nas de estrada, 10,0 km/l. Em relação ao desempenho, o V8 também fez bonito. Acelerou os 1836 quilos do carro em 7,5 segundos. E completou o primeiro quilômetro em 27,7 segundos, atingindo 196,4 km/h.

Ao volante, o 300C se comporta como um autêntico carrão americano. A suspensão é macia e a direção leve. Ele roda com tanta suavidade que, no primeiro contato, torna-se difícil perceber a velocidade. Na primeira volta na pista de Limeira, entrei na curva a cerca de 100 km/h, bem acima dos 80 km/h, nossa velocidade padrão para o primeiro contato com o carro. E tive de repetir a primeira passagem do teste de consumo urbano, porque ultrapassei os limites de velocidade estabelecidos para a medição. Ao contrário da maioria de seus macios conterrâneos, o 300C é surpreendentemente estável. A suspensão de braços triangulares, na dianteira, e multi-link, na traseira, mantém o carro grudado no solo e a direção permite controlar a trajetória com rédeas curtas. A carroceria enorme quase não rola, nas curvas de alta velocidade, e nas de baixa inclina-se pouco. Nas frenagens até 80 km/h, a dianteira se mantém nivelada, assim como nas arrancadas.

A posição de dirigir é interessante. O motorista de altura mediana fica com a linha de cintura do carro acima dos ombros. Mas isso não atrapalha a visibilidade nem torna difícil perceber as dimensões externas da carro. O acabamento é de boa qualidade. Os bancos são de couro e o painel é de material plástico, com alumínio. No volante e nos puxadores das portas, os detalhes são de resina imitando madeira. O banco do motorista é confortável, mas não agradou porque, nas curvas, não apóia bem o corpo. Parece feito sob medida para as estradas americanas, nas quais se trafega quase o tempo todo em linha reta. Mas a intenção dos engenheiros foi essa mesmo: fazer um carro americano como os americanos. Com a bênção dos alemães, que querem cada vez mais os americanos como clientes.


> Avaliação

Ficha técnica

Motor
Dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 16 válvulas
Cilindrada: 5654 cm3
Diâmetro x curso: 99,5 x 90,9 mm
Taxa de compressão: 9,6:1
Potência: 340 cv a 5000 rpm
Torque: 53,5 mkgf a 4000 rpm

Câmbio
Seqüencial de 5 marchas, tração traseira;
I. 3,59; II. 2,19; III. 1,41; IV. 1,00; V.0,83. Ré 3,17; Diferencial 2,82;
Rotação do motor a 100 km/h em D - 1900 rpm

Carroceria
Dimensões:
Comprimento, 499,9 cm; largura, 188,1 cm; altura, 148,3 cm; entreeixos, 304,8 cm
Peso: 1836 kg
Peso/potência: 5,4 kg/cv
Peso/torque: 34,3 kg/mkgf
Volumes:
Porta-malas, 442 l; tanque de combustível, 72 l

Suspensão
Independente nas quatro rodas, molas helicoidais, amortecedores a gás e barra estabilizadora
Dianteira: Braços duplos em forma de A
Traseira: Multilink

Freios
Discos ventilados, na dianteira, e sólidos, na traseira, com ABS e ESP

Direção
Tipo pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica;
diâmetro de giro, 11,9 metros;
2,75 voltas entre batentes

Rodas e pneus
Alumínio, aro 18; Continental ContiSeal 225/60R18

Principais equipamentos de série
Airbags adaptativos, ar-condicionado (dual zone), bancos elétricos, direção com ajuste de altura e distância, volante multifuncional, sistema de som Boston Acustics, revestimento de couro e sensor de chuva

Principais equipamentos opcionais
Windowbags, sensor de estacionamento, pedais com ajuste elétrico, faróis de xenônio

garantia
6 meses (importação independente)

Preço
80000 dólares

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