Novo Fiat esbanja estilo, enquanto o Renault aposta no espaço interno Se no fim de 2007 alguém me perguntasse se o recém-lançado
Renault Sandero faria frente ao
Fiat Palio, sobretudo nas vendas, eu provavelmente afirmaria categoricamente que não. Mas veja como o tempo muda os cenários... Após a reestilização de meia vida, em junho passado, o hatch da marca francesa viu suas vendas decolarem. Em novembro agora, foram 8.067 emplacamentos contra 10.262 do rival da Fiat – marca surpreendente. Mas, afinal, o que fez o
Sandero embalar? Alguns dirão que foi o design. Para mim, foi a evolução do interior. O painel ganhou charme e soluções mais funcionais.
Nos últimos cinco meses, o
Sandero foi a sensação, o carro que mais avançou nas vendas entre os compactos da faixa dos R$ 30 mil. E o
Palio? Ah, a velha geração (de 1996) já não esboçava reação há tempos. Vinha literalmente fazendo o “feijão com arroz”, brigando ali na relação custo/benefício. Dessa forma, a montadora italiana não podia mais esperar: promoveu a maior mudança da história do seu hatch compacto (tão querido e rentável). O
Palio simplesmente mudou por completo, deixando plataforma, desenho e todo o resto no passado. E a pergunta é: será o
Sandero capaz de rivalizar com o novo
Palio?
Impressões sensoriais O design dos carros é sempre algo muito subjetivo. Terão os que amam e os que odeiam.
Palio e
Sandero certamente não fogem à regra. Confesso que nunca fui admirador do visual do Renault. E as últimas reestilizações do Fiat me decepcionaram em estilo. A nova geração do modelo, no entanto, é divisora de águas: o
Palio ficou belo. Suas linhas ganharam elegância. A única parte da carroceria que ainda não me seduziu foram as lanternas. Mas as peças têm estilo! No
Sandero, a mudança estética recente foi fundamental. O
Renault também embelezou.
Contudo, a mim o
Palio parece mais atraente por fora, e por dentro também. Essa nova geração guarda poucas semelhanças com a anterior. O painel tem formas próprias e divertidas. Confesso que o acabamento me desapontou um pouco, as rebarbas aparentes continuam, mas estão menos evidentes. Os encaixes também melhoraram bastante, exceção da tampa do porta-luvas, que segue pobre. E os comandos em geral estão bem posicionados. O espaço interno é outro aspecto que melhorou bastante, especialmente no banco traseiro – mas nada revolucionário, diga-se.
Comparando o
Palio com o
Sandero no quesito espaço, a briga fica desonesta. O hatch compacto da Renault tem proporções de carro médio. Só o entre-eixos, por exemplo, já indica a diferença: são 2,59 metros do
Sandero contra 2,42 m do
Palio (17 centímetros a menos). O porta-malas também é privilegiado, com 318 litros versus 292 litros do Fiat, ambos aferidos por
Autoesporte. O principal problema do
Sandero é a simplicidade. Mesmo com os retoques estéticos, seu painel e o revestimento interno são bem mais modestos. Além disso, a lista de equipamentos é consideravelmente menor. É um carro mais basicão.
Relações custo/benefício
Apesar de serem rivais diretos, sobretudo após a renovação do Palio, os dois hatchs compactos guardam grandes diferenças quando o assunto é preço versus lista de série. Comparado ao Renault, o modelo da Fiat fica muito mais sofisticado à medida que o volume de opcionais cresce. Ao mesmo tempo, o Palio parte de baixo em relação ao Sandero Expression avaliado: tem preço inicial de R$ 30.990, enquanto o adversário começa em R$ 31.590. No entanto, da forma como chegaram à redação de Autoesporte (completos), tudo muda. O Palio vai a salgados R$ 41.793 e o Sandero, a R$ 38.700.
Ou seja, na prática o hatch da Fiat pode ser muito mais caro. Mas o modelo da Renault é muito mais simples, ficando a escolha a critério do freguês. Levando em consideração que este comparativo traz as versões equipadas com motores de 1.0 litro, tanto Palio quanto Sandero ficam salgados para o bolso. A diferença é que o Fiat parece mais refinado, muito por causa do belo e estiloso painel e a lista de equipamentos mais sofisticada. É possível instalar, por exemplo, sensores de luminosidade e de chuva, abertura elétrica da tampa traseira no escudo da Fiat e um sistema de som de melhor qualidade.
Sem opcionais, Palio Attractive e Sandero Expression vêm quase "pelados" de fábrica; direção hidráulica é de série nos hatchs e o Fiat traz computador de bordo e sistema Follow me home, que mantém as luzes acesas por alguns segundos
Impressões ao volante Briga de carros “mil” é sempre angustiante. Primeiro porque as diferenças de potência e torque são quase sempre mínimas. Segundo, porque os desempenhos não empolgam. Com
Palio e
Sandero, vale a tese. Em performance, ambos deixam a desejar. O Renault, por exemplo, tem um pouquinho mais de força sob o capô. Seu bloco 1.0 16V flex produz 76/77 cv (gasolina/etanol) a 5.850 rpm e 9,9/10,1 kgfm de torque aos 4.350 giros. No Fiat, o motor 1.0 8V flex gera 73/75 cv aos 6.250 rpm e 9,5/9,9 kgfm a 3.850 rotações, na mesma ordem. Só que o
Palio pesa 999 kg e o
Sandero, 1.025 kg.
Para fazer o tira-teima, só observando os números de teste. As diferenças, claro, são mínimas. Para arrancar de 0 a 100 km/h, o
Palio levou longos 18,5 segundos, mais que os 17,4 segundos feitos pelo
Sandero. Já nas retomadas de 60 km/h a 100 km/h em 4ª marcha, a vantagem muda de lado: o Fiat levou 14,4 segundos contra 17,5 segundos do Renault. Os consumos de ambos (com etanol) empolgam mais. Na cidade, deu empate com ótima média de 9,1 km/l. Na estrada, o
Palio fez 10,2 km/l contra 12,6 km/l do
Sandero. E os consumos mistos foram razoáveis, 9,6 km/l e 10,7 km/l, na ordem. Ao volante, as dimensões maiores do
Sandero sempre deixaram o modelo em vantagem sobre os compactos do segmento, em geral. O hatch da Renault tem as bitolas (distância entre as rodas do mesmo eixo) mais largas, o que favorece a estabilidade – faz com que a carroceria incline menos. Desde a primeira vez que dirigi o
Sandero me surpreendi com o equilíbrio dinâmico do modelo. Outro aspecto positivo é que a Renault encontrou um ajuste acertado da suspensão, deixando o conjunto mais macio sem comprometer o equilíbrio. Diante do
Palio antigo, o
Sandero era indiscutivelmente superior no aspecto.
Por essa razão, minha curiosidade estava totalmente sobre o
Palio. E a conclusão é de que a engenharia da Fiat acertou a mão desta vez. O hatch da marca italiana está consideravelmente mais firme sobre o asfalto e faz curvas sem inclinar tanto como antes. O rodar em retas também está mais equilibrado, com respostas mais diretas aos movimentos do volante. O endurecimento das molas só compromete um pouco o conforto quando se trafega por pistas muito castigadas. Nesse quesito, o
Sandero é melhor, mais suave e estável. Mas o
Palio tem um ajuste melhor da direção e diverte mais o condutor.
Moral da história Toda vez que testo carros mais acessíveis me pergunto qual deles eu compraria. Neste caso, escolheria o novo
Palio, por gostar mais do design externo e interno – o Fiat é visualmente mais moderno e refinado. Mas apesar do ambiente simplório, não há como negar que o
Sandero é superior em conforto, especialmente em relação ao espaço interno e à suspensão. O hatch da Renault também possui maior robustez física. O
Palio é mais elegante e atlético. Mas o ponto determinante no comparativo foi a direção mais divertida e precisa do
Palio. A Fiat conseguiu refinar a estética do hatch e também a engenharia.
| Fiat Palio Attractive 1.0 flex | Renault Sandero Expression 1.0 flex |
Preço inicial | R$ 30.990 | R$ 31.590 |
Motor | Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 8 válvulas, comando simples, injeção eletrônica, flex | Dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, comando simples, injeção eletrônica, flex |
Cilindrada | 999 cm³ | 999 cm³ |
Potência | 73/75 cv a 6.250 rpm | 76/77 cv a 5.850 rpm |
Torque | 9,5/9,9 kgfm a 3.850 rpm | 9,9/10,1 kgfm a 4.350 rpm |
Transmissão | Manual de cinco velocidades | Manual de cinco velocidades |
Dimensões | 3,87 m (comprimento); 1,67 m (largura); 1,50 m (altura); 2,42 m (entre-eixos) | 4,02 m (comprimento); 1,74 m (largura); 1,53 m (altura); 2,59 m (entre-eixos) |
Freios | Discos na frente e tambores atrás | Discos na frente e tambores atrás |
Suspensão | Na dianteira, independente, McPherson/na traseira, eixo de torção | Na dianteira, independente, McPherson/na traseira, eixo de torção |
Tanque | 48 litros | 50 litros |
Porta-malas | 292 litros (Aferido por AE) | 318 litros (Aferido por AE) |
Preço da versão avaliada | R$ 41.793 | R$ 38.700 |
Números de testes |
Aceleração 0 a 100 km/h | 18,5 segundos | 17,4 segundos |
Retomada 60 a 100 km/h | 14,4 segundos | 17,5 segundos |
Consumo urbano | 9,1 km/l | 9,1 km/l |
Consumo rodoviário | 10,2 km/l | 12,6 km/l |
Consumo médio | 9,6 km/l | 10,7 km/l |
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