quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Kia Picanto 1.0 Flex
O Picanto sempre foi completo de série. Ar-condicionado, direção com assistência elétrica, airbag duplo, rodas de liga leve, travas, vidros e retrovisores com acionamento elétrico e som completo fazem a alegria do comprador. Em nova geração, o urbano da Kia mantém o bom pacote de equipamentos e adiciona doi ingredientes a que o brasileiro não resiste: desenho atraente e motor flex. O Picanto 2012 chega no fim de agosto com acréscimo de apenas 1 000 reais em relação à atual. Único modelo 1.0 com opção de câmbio automático do mercado, o coreano foi até nossa pista para um teste completo.
A primeira boa impressão é causada pelo desenho equilibrado. Na dianteira, os faróis principais têm formato similar ao das molduras dos faróis de neblina. Estes, por sua vez, são separados por uma grade trapezoidal, numa solução de estilo similar à aplicada pela Ford no novo Fiesta. A lateral com um vinco longo - nasce no para-lama dianteiro e morre na lanterna - e sem frisos nas portas prima pela discrição. A traseira mostra lanternas com forma de bumerangue nas laterais da tampa do porta-malas, mas as luzes de ré ficam um pouco mais abaixo, nas extremidades do para-choque, em peças que também cumprem a função de retrorrefletor (ou olho de gato). Com linhas atuais e muita personalidade, o Picanto de nova geração está muito mais atraente, como comprovamos ao rodar em meio ao trânsito de São Paulo. Virar o pescoço para ver lançamento da Kia passar foi praticamente uma regra, especialmente entre os donos (e donas) de modelos compactos.
Na cabine, novas e gratas surpresas. O painel continua mesclando plásticos pretos e prateados, mas o desenho está muito mais atual. O quadro de instrumentos agora é dividido em um grande círculo central (velocímetro) e duas meias-luas (conta-giros e nível de combustível), mas herda da geração anterior a falta de termômetro. O destaque é o volante, revestido de couro e com comandos de som e moldura inferior cinza (estilo boca de tigre, como a grade do radiador). Atrás, há pouco espaço para as pernas, principalmente se os ocupantes da dianteira tiverem mais que 1,70 metro de altura. Ainda que apertado, o passageiro do meio tem cinto de três pontos e apoio de cabeça. Todos os demais cintos são automaticamente ajustáveis no ângulo superior por meio de um sistema cada vez mais utilizado pelas fábricas para substituir o tradicional (e mais caro) dispositivo de regulagem de altura. A cabine um tanto apertada reserva um porta-malas com tamanho compatível com o de outros compactos: 200 litros - o do Mille comporta 290 litros e o de um Ka, 263. Na hora de acomodar a compra do supermercado, por exemplo, o compartimento fundo e estreito exige paciência de quem monta um quebra-cabeça de peças grandes e pequenas. As portas não travam quando o carro entra em movimento nem destravam quando a chave é retirada da ignição. Movimentar as maçanetas internas também não resolve - é preciso destravar o botão manualmente. "O acionamento automático das travas só é habilitado [via central eletrônica] nos Picanto vendidos nos mercados europeu e norte-americano", diz José Vital Nogueira, diretor de pós-venda da Kia.
Freio nas vendas
Se você gostou do que viu até agora, vá com calma antes de adquirir um Picanto dos primeiros lotes, cujas versões topo de linha foram trazidas sem ABS. "Mudamos a estratégia às vésperas do lançamento e transformamos em intermediária o que seria a versão completa (com airbags laterais e do tipo cortina, leds nos faróis e lanternas, teto solar e iluminação junto aos espelhos de cortesia). Como complemento, criamos a topo de linha, com tudo isso mais ABS", diz José Luiz Gandini, presidente da Kia no Brasil. Na prática, as versões "completas sem ABS" são um erro de avaliação da marca e os Picanto intermediários dos primeiros lotes são candidatos a futuros micos. Fuja deles. Os preços variam de 34 900 reais (manual de entrada) a 44 900 reais (automático completo).
Além do design assinado pelo renomado Peter Schreyer, o Picanto tem nova plataforma. O motor, um três-cilindros 1.0 12V, é uma "releitura" do quatro- cilindros utilizado até então. "A engenharia da matriz concluiu que motores de baixa cilindrada têm melhor desempenho dinâmico com blocos de três cilindros, em vez de quatro", diz Nogueira. O problema é que essa redução produz aumento de vibrações e, consequentemente, de ruídos. Felizmente, no Picanto, a questão foi contornada com eficiência. Coxins bem dimensionados e aplicação correta de material fonoabsorvente isolam a cabine e dão ao compacto níveis de ruído interno abaixo do dos concorrentes. A central flex, desenvolvida pela Bosch do Brasil e pela matriz da Kia, permite ao 1.0 trabalhar com álcool e gasolina.
Autonomia reduzida
Na pista, a única versão cedida para teste, com câmbio automático, mostrou números modestos nas provas de desempenho e muito bons nas de consumo. Acelerou de 0 a 100 km/h em longos 17,1 segundos e registrou consumo de 9,6 km/l (na cidade) e 12 km/l na estrada, com álcool. Concorrentes com câmbio manual, como o Gol, cumprem as mesmas provas em 14,5 segundos e 8,7 e 12 km/l. O tanque, com apenas 35 litros, restringe a autonomia a apenas 420 km - portanto, se o consumo não fosse tão bom, a autonomia seria pífia.
Com suspensão firme, o Picanto sofre um pouco no piso maltratado de São Paulo. A assistência elétrica compensa parte desse desconforto: é extremamente leve nas manobras e transmite segurança em velocidades elevadas. Sempre que possível, evite trajetos com subidas íngremes, especialmente com cinco pessoas a bordo e ar-condicionado ligado. Essa situação, definitivamente, não combina com um carro com motor 1.0 e câmbio automático.DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A direção, levíssima nas manobras, facilita a vida na hora de estacionar.
MOTOR E CÂMBIO
O câmbio automático responde por quase metade das vendas atuais, mas deixa o Picanto lento demais nas acelerações.
CARROCERIA
Além de bem montado por dentro e por fora, o Picanto é sedutor. Na rua, não houve quem resistisse a uma segunda olhadinha.
VIDA A BORDO
Os porta-objetos, em geral, são pequenos. Para quem viaja atrás, há porta-revistas no encosto dos bancos dianteiros.
SEGURANÇA
Nenhum outro 1.0 oferece, ainda que como opcional, seis airbags e ABS.
SEU BOLSO
O Picanto traz para o mundo dos 1.0 um nível de equipamentos e design inédito. O motor flex é o destaque positivo. A falta de uma política de revisões com preços fixos, o negativo.
OS RIVAIS
Uno 1.0 Vivace
Manual, acelera tão mal quanto o Picanto (17,1 s) e bebe muito na cidade (8,4 km/l) e na estrada (11,5 km/l).
Gol 1.0
Com 12 km/l de consumo rodoviário, ele empata com o Picanto, mas é mais rápido: faz de 0 a 100 km/h em 14,5 s.
VEREDICTO
O Picanto abre a safra de compactos premium asiáticos, que trará ainda Honda Brio, Toyota Etios e Hyundai HB. Econômico ele já mostrou que é. Agora fica a expectativa de um desempenho melhor da versão com câmbio manual.
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